
Insetos, fungos e folhas amareladas fazem parte do jardim.
Interferir pode causar mais desequilíbrio do que solução
por Edilson Giacon
Observar mais e intervir menos. Essa costuma ser a orientação que dou a quem me procura no viveiro relatando “problemas” no jardim. Uma folha mordida, manchas ou a presença de insetos podem parecer sinais de pragas ou doenças — mas, com frequência, representam apenas aspectos normais de um ecossistema equilibrado.
O uso precipitado de defensivos, especialmente os de amplo espectro, pode romper interações importantes entre plantas, insetos e microrganismos. A consequência pode ser o surgimento de desequilíbrios mais profundos e recorrentes.
Nem toda planta que perde folhas está doente. Nem todo inseto deve ser combatido. Às vezes, o que parece agressão é simplesmente uma etapa de manutenção do ciclo vital da planta. Perder uma ou outra espécie no processo pode ser parte do aprendizado para manter as demais saudáveis. O jardim não é estático; é sistema vivo, em constante adaptação.
O caso dos besourinhos-azuis
Nas melastomatáceas, como manacás-da-serra e quaresmeiras, o desfolhamento causado pelos besourinhos-azuis é intenso. Ainda assim, evitamos o uso de pesticidas aqui no viveiro. Observando o ciclo dessas plantas, percebi que, após o ataque, o rebrotamento ocorre com vigor. Esses besouros atuam como agentes de poda natural, controlando o excesso de folhagem em períodos de calor e umidade. Ao permitir esse processo, garantimos que a planta se fortaleça com menos intervenção.

Foto: Hana Daily Studio – Shutterstock

Lagartas no jasmim-manga
Quem tem essa arvoreta no jardim, certamente já se acostumou com o período em que o jasmim-manga é atacado por lagartas grandes. As pretas com listras amarelas são as mais comuns — e se tornarão lindas borboletas. Surgem em excesso principalmente se a planta estiver em um local muito úmido ou com sombra excessiva. Se você ainda não foi apresentado a elas, não se assuste! Sua presença é perfeitamente normal, faz parte do ciclo da planta.
Elas não fazem mal ao toque e ajudam a espécie a renovar as folhas, que ficam menos suscetíveis à podridão provocada pela umidade. Além disso, as fezes dessas lagartas adubam o solo e enriquecem o ambiente ao redor fazendo o jasmim-manga florescer com mais vigor.

e faz parte do ciclo do jasmim-manga ter suas
folhas devoradas
Foto: Re Metau – Shutterstock

Formigas-cortadeiras e a baixa diversidade vegetal
As formigas-cortadeiras são mais problemáticas em jardins pouco diversificados. Quando há um baixo número de espécies vegetais disponíveis, elas concentram sua atividade sobre elas, extraindo folhas que virarão compostos químicos para cultivar fungos simbióticos.
A diversificação do plantio dilui essa pressão. Plantas diferentes oferecem recursos variados e atraem inimigos naturais das cortadeiras, reduzindo sua ação sem necessidade de controle químico.

Outono, inverno e a renovação natural
Com a queda de temperatura e a redução da luz no outono e no inverno, é natural que muitas espécies percam folhas. A presença de insetos, como besouros e lagartas, nessa época também é comum e longe de ser motivo de alarme. Pode até beneficiar o ambiente.
Ao consumir folhas em decomposição ou comprometidas, esses insetos contribuem para a limpeza da planta e do solo, prevenindo o acúmulo de matéria orgânica que favoreceria fungos patogênicos em ambientes úmidos.


Checklist para acompanhar a vida no jardim
Registre com fotos o que ocorre com suas plantas.
Anote datas e observe as condições climáticas.
Busque informações em grupos especializados e fontes confiáveis.
Use defensivos químicos apenas como último recurso, e prefira sempre métodos seletivos e naturais.

Edilson Giacon tem mais de 40 anos de experiência na produção de espécies ornamentais, frutíferas, nativas e plantas em risco de extinção. É proprietário da Ciprest Mudas e Plantas.

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