Por armazenarem grandes quantidades de água, as bromélias são um recurso valioso para uma infinidade de criaturas nas florestas tropicais
TEXTO Eduardo Gonçalves | FOTOS Acervo Natureza
No alto das árvores, onde a insolação é forte e os ventos, constantes, não é muito fácil achar água, a não ser que esteja chovendo. Uma única bromélia no topo de uma árvore, portanto, se configura como um pequeno oásis para quem quer que esteja passando por ali.
Para começar, elas são os bebedouros e banheiras aéreas de muitos pássaros, que não
precisam descer ao chão atrás de água. O mesmo acontece para mamíferos e répteis, que podem evitar o risco dos predadores no solo se beberem apenas no alto. E o urso-de-óculos (Tremactos artos), o único nativo da América do Sul — ele vive na Colômbia e no Equador —, é um devorador de bromélias, que garantem a ele água e alimento.
Entre os anfíbios, que normalmente dependem da água para sua reprodução, muitas espécies se especializaram em deixar seus ovos nestas verdadeiras lagoas vegetais em miniatura, para que os girinos se desenvolvam.
Mesmo que não se reproduzam ali, muitos outros anfíbios usam as bromélias como ponto de umidade para passar o dia, e como abrigo para escapar de predadores. Em áreas mais próximas ao litoral, caranguejos podem ser encontrados nas bromélias, aproveitando a umidade e o esconderijo. Aliás, existe uma espécie de caranguejo na América Central que se tornou completamente dependente das bromélias, nunca visitando outros corpos de água. Libélulas e muitos outros insetos com desenvolvimento aquático podem usar bromélias para se reproduzir. Esse grupo, é claro, inclui os mosquitos, mas o mosquito-da-dengue — que é o mais temido — simplesmente não se utiliza de tais ambientes para reprodução. A dependência das bromélias não é exclusividade dos animais.
Existem plantas que utilizam a água no copo das bromélias como recurso ou mesmo como habitat integral. Nas restingas, as bromélias são berçários de muitos imbés (Philodendron spp. e Thaumatophyllum spp.), que germinam em seus tanques antes de lançarem as longas raízes para o solo. E há pelo menos duas espécies do grupo das aráceas que só foram vistas crescendo em tanques de bromélias, adaptando-se de forma total a este ambiente.