Antes do “descobrimento” do Brasil já havia trilhas que ligavam o Atlântico ao Pacífico.
E a “puxa-tripa” era a planta que mantinha o caminho funcional

TEXTO Roberto Araújo FOTO mikeakresh – BioDiversity4All 3

A planta conhecida popularmente como “puxa-tripa” está ajudando historiadores a compreender melhor o cenário da América do Sul antes da chegada dos europeus. Contrariando a ideia de que os índios viviam isolados, havia uma rede de caminhos chamada Peabiru, que significa “caminho do gramado amassado” em tupi. Esse caminho conectava o Oceano Atlântico ao Pacífico, estendendo-se da Capitania de São Vicente até Cusco, no Peru, abrangendo mais de 3 mil quilômetros.
O desafio para os historiadores era entender como essa trilha não era consumida pela floresta. Aqui entra a relevância da “puxa-tripa”, que se suspeita ser a Homolepis glutinosa. Os índios abriam caminhos e semeavam essa gramínea, formando um ‘tapete verde’ sobre a trilha, impedindo a germinação de outras espécies e resistindo até mesmo a queimadas. Uma característica notável dessa gramínea é a presença de diásporos que grudavam nos pés e pernas dos transeuntes que ao andar levavam consigo também partes da inflorescência e a própria raquis, que seriam então arrastadas como se fosse uma longa “tripa” – daí o nome “puxa-tripa” —, que facilitava sua dispersão ao longo do caminho. Embora pouco reste desse antigo caminho e muita pesquisa ainda seja necessária, os cientistas consideram essa hipótese bastante plausível. E teria servido até aos bandeirantes nas entradas e bandeiras. Peabiru, fique ligado nessa história.

[wpcs id=9559]