Fácil de cultivar e com flores que lembram muito algumas carnívoras, essas orquídeas são uma ótima pedida para iniciantes
Fotos Valerio Romahn
Pode ser que tenha sido durante uma daquelas brincadeiras, em que a gente fica tentando enxergar formas nas nuvens e em outros objetos, que alguém tenha visto na flor da sapatinho (Paphiopedilum hybrid) a figura de um sapato. Ou de um chinelo, uma vez que, em grego, é justamente esse o significado do pedilum de seu nome científico. O fato é que o nome pegou e hoje todo mundo chama assim essas orquídeas de labelo estufado, que lembram muito as carnívoras nepentes.
Considerados algumas das orquídeas mais primitivas do mundo – acredita-se que elas estejam por aqui desde o período Jurássico –, os sapatinhos são plantas amplamente hibridadas e contam com mais de 100 espécies distintas, com flores multicoloridas. Elas são nativas de regiões com climas bem diversos e, por isso, tanto faz se você vive em áreas mais frias, como as da região Sul, ou no calor do Nordeste: certamente existem Paphiopedilum ideais para você.
Apesar de não haver uma regra infalível que permita identificar só de olhar para a planta qual sapatinho vai bem em cada área – até porque volta e meia são desenvolvidos híbridos cada vez mais resistentes ao calor –, a cor da folhagem costuma dar a pista: as totalmente verdes geralmente são nativas das montanhas do Himalaia e outras regiões de altitude, e, portanto, ideais para as regiões Sul e Sudeste. As manchadas, com efeito marmorizado, por sua vez, são originárias do litoral da Tailândia, de Mianmar e do Vietnã, e indicadas para áreas tropicais.
Aliás, as folhas dispostas em forma de leque são, juntamente com as flores, as grandes responsáveis por essas orquídeas serem sucesso na decoração de ambientes internos.
SOMBRA E ÁGUA LIMPA
Embora a maior parte das espécies de sapatinho seja terrestre e possa até ser cultivada direto no solo, o mais indicado é plantá-las em vasos plásticos, que retêm melhor a umidade. Eles devem ser preenchidos com substrato bem drenado e manter as raízes da planta bem comprimidas. O orquidófilo Roberto Agnes gosta de usar uma mistura de 60% de casca de pínus pequena e 40% de pedra brita. Já a também orquidófila Creuza Muller alega não ter um substrato específico: “O importante é que ele seja fértil e poroso”, explica. Em geral, ela gosta de misturar produtos mais densos, como terra vegetal e húmus de minhoca, com outros mais aerados: areia virgem, fibra de coco, argila expandida pequena e até gravetos em decomposição e folhas secas.
Paphiopedilum insigne
Nenhuma outra espécie de sapatinho é tão famosa e cultivada em todo o mundo quanto o Paphiopedilum insigne, cujas flores de até 12 cm de diâmetro despontam no inverno, no topo de hastes de 30 cm de altura. Apesar de ser nativa de regiões frias e de altitude da Índia e da China, graças a melhoramentos genéticos, hoje existem cultivares que vão bem até no calor do Centro-Oeste brasileiro. Ela pode ser plantada no chão, e o orquidófilo Roberto Agnes se arrisca a dizer que a espécie é imatável, tamanha sua resistência às condições adversas.
Paphiopedilum × leeanum
Entre tantos sapatinhos híbridos existentes por aí, o Paphilopedilum × leeanum pode se orgulhar de ser um dos poucos híbridos naturais, criados sem a interferência do homem. Ele surgiu no Himalaia a partir do cruzamento do Paphiopedilum insigne com o Paphiopedilum spicerianum, uma outra orquídea que vivia por lá. Vigoroso, tem folhagem que forma uma touceira meio bagunçada e flores com uma linha bordô na sépala dorsal.
As regas, sempre com água pura – da chuva ou mineral –, não têm periodicidade fixa: deve-se esperar que o substrato fique seco para só então molhar a orquídea novamente, e o tempo que demora para isso acontecer depende muito do clima da região e da época do ano. Outra recomendação dos especialistas é regar os sapatinhos sempre pelo lado, nunca molhando o centro da folhagem, para evitar o acúmulo de água, que pode levar ao apodrecimento da planta.
Para a adubação, use adubos foliares, que reduzem o risco de
salinização do substrato. Agnes gosta de dissolver o produto na água das irrigações e aplicá-lo de forma alternada, uma rega sim, outra não. Já Creuza prefere dar um espaçamento maior entre as fertilizações, pois o excesso de adubo pode deixar as folhas e flores com aspecto queimado.
As orquídeas sapatinho são facilmente encontradas em orquidários
de todo o Brasil.
SAPATINHO EM DETALHES
• Nome científico: Paphiopedilum hybrid
• Nomes populares: sapatinho, sapatinho-de-vênus
• Família: Orquidáceas
• Origem: plantas híbridas desenvolvidas a partir de espécies nativas de regiões bem distintas. Enquanto as de folhas verdes geralmente vêm das montanhas do Himalaia e de outras regiões de altitude, as de folhas manchadas são nativas do litoral da Tailândia, de Mianmar e do Vietnã
• Características: amplamente hibridado, esse grupo de orquídeas conta com mais de 100 espécies. Em comum, elas têm as flores com labelo grande e estufado, que lembram os jarros das carnívoras nepentes
• Folhas: muito ornamentais, se abrem como leques. Podem ser totalmente verdes ou manchadas, com efeito marmorizado; e coriáceas ou maleáveis
• Flores: de colorido variado, medem de 5 cm a 14 cm de diâmetro e apresentam o labelo grande e estufado. Têm as sépalas laterais fundidas, a sépala dorsal bem proeminente, e geralmente despontam entre o inverno e a
primavera, isoladas no ápice de longas hastes
• Solo: fértil e poroso
• Luz: meia-sombra
• Clima: originários de regiões mais frias, os sapatinhos de folhas verdes vão bem na região Sul e Sudeste do Brasil. Os de folhas manchadas, por sua vez, se adaptam melhor em clima tropical
• Regas: devem ser feitas com água da chuva ou mineral. Não há uma periodicidade fixa para molhar a planta, mas é importante esperar que o substrato seque antes de irrigar novamente. Despeje o líquido sempre pela lateral, nunca por cima da planta. Assim, evita-se o acúmulo de água na parte central da folhagem, o que é prejudicial para a sapatinho
• Plantio: os sapatinhos devem ser mantidos em vasos de plástico, preenchidos com substrato fértil e poroso. Pode ser uma mistura de 60% de casca de pínus pequena e 40% de pedra brita, ou a combinação de materiais
mais densos, como terra vegetal e húmus de minhoca com outros mais aerados, a exemplo da fibra de coco, da argila expandida e da areia virgem
• Adubação: aplique adubos foliares específicos para orquídeas
• Reprodução: por sementes ou por brotações laterais