O talude do terreno, que poderia ser considerado um problema, se transformou em um jardim dos sonhos

– Por Manoel de Souza  Gabi Bastos| Fotos Valerio Romahn | Projeto Walkíria Fernandes | Produção Aida Lima

O desafio era grande: a casa foi construída em um terreno muito acidentado, com inclinação de até 45 graus. Quando entrou no projeto, a paisagista Walkíria Fernandes propôs criar soluções para aumentar a convivência externa nas áreas construídas, caso do mirante da frente da casa e de um gazebo, entre outros espaços. Para trabalhar os taludes, usou contenções de dormentes. Já no jardim, harmonizou o visual da casa com uma escolha criativa de plantas.

ÁREA DE CONTEMPLAÇÃO

Na face norte do terreno, foi construído um mirante de 10 m x 5 m com uma parte suspensa sobre o talude. “É o local que recebe mais sol e isso é muito valorizado em Campos do Jordão, cidade serrana de São Paulo, geralmente fria”, explica Walkíria. O espaço foi revestido com pedras miracema 50 cm x 50 cm e serve para as refeições da família. Por se tratar de uma laje, o paisagismo precisou ser criado em vasos. Entre as espécies utilizadas, destacam-se buxinhos (Buxus sempervirens) (1) topiados em formatos diferentes e azaleias (Rhododendron x simsii) (2) em forma de arvoreta, forradas por flor-canhota (Scaevola aemula) (3). Um canteiro de camélia (Camelia japonica) (4) demarca o limite do talude.

CIRCULAÇÃO AMPLIADA

A greenhouse estruturada em ferro pintado já fazia parte do projeto da casa. De lá, é possível apreciar a bela paisagem montanhosa. Mas foi preciso aterrar uma pequena parte do terreno e providenciar contenções de dormentes no entorno para abrir caminhos e criar uma saleta ao ar livre. “Precisávamos de áreas planas para a circulação em volta do greenhouse”, explica Walkíria.

Glicínias e margaridinhas-rosas integram a greenhouse ao jardim

O piso interno da greenhouse é de mármore preto e branco. Do lado de fora, foram colocadas pedras miracema numa disposição que facilita a caminhada. A estrutura foi integrada ao jardim por espetaculares glicínias (Wisteria floribunda) (5) e delicadas margaridinhas-rosas (6). Como forma de proteção, foram criados guarda-corpos de buxinhos (1). Já as espécies cultivadas em vasos proporcionam cor e aroma ao jardim, caso da lavanda (Lavandula dentada) (7), que floresce na primavera e no verão.

Buxinhos topiados funcionam como guarda-corpos e garantem a segurança na beira do talude

DICAS PARA TERRENOS INCLINADOS

Nos projetos de topografia acidentada, é essencial acompanhar o andamento no local. “Não há como prever todos os detalhes no desenho. Acompanho a implementação para adaptar o paisagismo conforme o caso”, explica Walkíria. Para criar um paisagismo harmonioso nesse talude, foi preciso trabalhar com espécies de diferentes alturas. As plantas utilizadas são as mesmas encontradas em outras partes do jardim: azaleia (2), buxinhos (1) e lavandas (7). Só o cedro-japonês (Cryptomeria japonica) (8) aparece pela primeira vez, mas está topiado no mesmo formato que outras plantas do local. Isso proporciona identidade visual ao projeto.

ATRAÇÕES PELO JARDIM

Mesmo áreas inclinadas podem ser convidativas a um passeio pelo jardim. Para tanto, basta planejar caminhos e cantinhos acolhedores. Aqui existem alguns bons exemplos, caso da escada de dormentes com degraus floridos de álisso (Lobularia maritima) (9). Ou ainda do percurso perfumado por lavandas que, no final, apresenta um banquinho rústico de onde é possível apreciar a paisagem. É um passeio para repetir várias vezes.

Entre os degraus, foram cultivados álissos. Perto dali, um banquinho é parada estratégica para curtir a bela paisagem

Para criar essas atrações, Walkíria Fernandes usou contenção de dormentes na escada e no talude. As peças estão metade para fora e metade enterradas no solo. Não foi preciso cimento para chumbá-las.

Um renque de lavandas perfuma um dos caminhos do jardim

CANTEIRO DE BOAS-VINDAS

A entrada da casa tem soluções caprichadas para deixar o local bem convidativo. No canteiro principal, um buxinho topiado (1) como se fosse um bonsai já dá ideia do paisagismo minucioso que se encontra à frente. Essa planta tem mais de 20 anos e sua manutenção é feita com podas de formação a cada seis meses. Para criar um contraste de cores, foi montado um canteiro de miniprímulas (Primula malacoides) (10) no entorno do buxinho.

A herbácea de até 40 cm de altura apresenta folhas grandes que contrastam com a folhagem do buxinho. Além disso, florescem intensamente no inverno e na primavera. Outra boa ideia da entrada são os dois vasos de gardênia (Gardenia augusta) (11) colocados ao lado da porta. Esse arbusto de até 2 m de altura apresenta flores grandes, alvas e intensamente perfumadas, que servem de boas-vindas durante toda a primavera e o verão.

O formato topiado do buxinho impressiona. Sua beleza é realçada por um canteiro de floríferas miniprímulas

CAMINHO REFORÇADO

Para se chegar à casa, foi criada uma escada de alvenaria que atravessa parte do terreno. Muito criativo, o paisagismo local mistura o estilo francês – marcado por plantas topiadas –, com o estilo inglês, famoso por canteiros de linhas orgânicas em que as plantas crescem livremente.

O contraste entre esses estilos aparece na combinação de buxinhos topiados (1) que encobrem a contenção do terreno com o maciço de margaridinhas-deparis (Argyranthemum frutescens) (12). A manutenção de todo o jardim é feita pelo caseiro sob a supervisão de Walkíria Fernandes, que visita o lo cal a cada seis meses. “Para manter o conceito original do jardim, é importante cuidar de perto, ou as manutenções e acréscimo de novas plantas podem desarmonizar o desenho do projeto”, explica a profissional.

O paisagismo mistura plantas que crescem livremente e outras espécies contidas por topiaria

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