O passo a passo secreto para fazer um projeto paisagístico de sonhos em apenas… uma vida!

De que sabor é esse doce que você está comendo, Laurinha?” A pequena olha a embalagem como se soubesse ler, pensa um pouco e diz: “Sabor de gostoso!”.
Acompanho com curiosidade o crescimento das minhas sobrinhas. Gosto de ver como vão mudando as feições, a voz, as brincadeiras. Bebês parecem se desenvolver tão devagar, mas basta ficar uns meses sem vê-los e logo se nota como espicharam, já não cabem nas roupinhas. Eram mudinhas ainda ontem e, agora, já estão desabrochando.

A curtição começa antes mesmo de eles virem ao mundo. Converse com qualquer grávida e você vai ouvir em detalhes cada pequena mudança no corpo, a ansiedade de ver logo a carinha do filhote, o desejo de que ele cresça forte e saudável.

Já pensou como seria estranho uma grávida dizer “Ai, amiga, não vejo a hora que ele saia da faculdade!”. Como assim? Se o bebê nem nasceu, pra que essa pressa toda?

Pois é exatamente assim que conversam comigo muitas pessoas que querem começar um cantinho verde em casa. Estão “grávidos” da ideia de ter mais contato com a Natureza, mas querem tudo pronto. Não tem curtição, não tem “vamos escolher os vasos, os seixos, se vai ter horta, como faz pra ter passarinhos”, nada. Esse tipo de “grávido” aparece pedindo algo que fique “bonito, verde, florido e dando fruta o ano todo”. Juro. Assim, como se fosse um pedido num restaurante fast food, manja? “Ah, pois não, um jardim para já. Fritas acompanham, senhor?”

Começar um jardim é um jeito superdivertido de NÃO sentir o tempo passar. Logo vira um exercício de terapia, quase um mantra, um jeito de limpar a mente e estar ali, tirando matinho, de corpo e alma. O tchanãs da coisa é justamente o processo, e não o fim – até porque a jardinagem nunca tem fim.

Quando você começa a semear uma horta, mesmo que seja no menor dos vasos, num cantinho de nada do parapeito de uma janela, abre-se um clarão de energia na sua vida. Assim como minhas irmã e cunhada dizem que foi com a maternidade, também o jardineiro amador logo percebe que tem “muito mais pique do que imaginava”. É um tal de regar daqui, podar dali, checar se tem praga, recolher folhas secas, colocar adubo, colher… A planta pode até ter vida curta, mas o trabalho, não. E parece que, quanto mais árdua é a jardinagem, mais prazeroso fica.

Não quero que minhas mudas “cresçam logo”, nem almejo uma mangueira que dê fruta o ano todo – uma das coisas mais deliciosas do mundo é esperar a chegada do verão para colher mangas no pé.

Adoro tirar fotos de sementes, ver como uma pedrinha tão dura e sem graça logo cria “perninhas”, ganha folhas e espicha, ali, bem na minha frente, dia a dia. Amo acordar e correr para ver se o botão de orquídea já abriu ou ser surpreendida pelas novas cores que a abóbora ganhou no processo de amadurecimento.

A graça está toda no processo. No caminho. Então, curta suas plantas como quem curte um percurso bonito, e não como quem não vê a hora de chegar ao destino final. Jardinagem tem sabor de gostoso.

Carol Costa é jornalista, jardinista e idealizadora do blog Minhas Plantas (www.minhasplantas.com.br). Tem uma coluna na rádio BandNews FM e apresenta o programa “Mais cor, por favor” no canal GNT