TEXTO: Erwin Bohnke

Brasileiríssimo, cada vez mais esse gênero tem sido usado para fazer cruzamentos e inovar nas formas e cores das orquídeas

O Zygopetalum crinitum é endêmico da Mata Atlântica,
de Santa Catarina até o Espírito Santo, e mostra muito bem o babador,
que é a união das pétalas com a coluna e o labelo. Foto: Wikipedia

Não ligue para este nome aparentemente difícil de falar com suas iniciais em “Zy” tão pouco comuns em português. O gênero Zygopetalum refere-se a uma orquídea brasileiríssima, tanto que das 14 espécies reconhecidas, só duas ultrapassam as fronteiras do Brasil. E para reconhecer todas elas, basta olhar o enorme “babador” que todas têm. John Lindley, o inglês que fez a classificação, dificultou um pouco ao escolher a palavra Zygon, que quer dizer jugo ou canga (uma peça de madeira usada para manter dois bois juntos para arar a terra). Para ele, essa palavra era a que melhor aludia a união das pétalas com a coluna e o labelo criando aquela saliência característica, que mais parece um babador sob a coluna.

Em ilustração de 1838, a Zygopetalum maxillare já impressionava pela haste floral com mais de 30 cm e o “babador” azul arroxeado. Até hoje é muito usada em hibridações pelos resultados diferentes.
Ilustração: Wikipédia

Essa união não deixa de ser algo um tanto estranho em orquídeas. E como está em moda “coisas estranhas”, tanto em forma como em coloridos diferentes dos tradicionais, o Zygopetalum é perfeito para fazer híbridos e criar novidades. Sim, inovar é a chave do sucesso. E nesse sentido nada melhor do que usar alguma orquídea “estranha” e começar a fazer híbridos. É o caso do Zygopetalum e seus gêneros associados: Warrea, Paradisanthus, Koellensteinia, Kefersteinia, Galeottia, Pabstia, Chaubardia, Pescatoria, Promenaea, Stenia, Aganisia, entre outros.

Um dos Zygopetalum mais usados nos cruzamentos tem sido o Zygopetalum maxillare, por ter o labelo inteiro azul arroxeado, haste floral com mais de 30 cm de altura e flores de 6 cm de diâmetro. Ele vegeta exclusivamente sobre xaxim (Dicksonia sellowiana), com um rizoma escandente, crescendo por dentro da fibra do xaxim, de forma que sua haste floral parece ser a floração do próprio xaxim.

Cuidados

O cultivo dos Zygopetalum e seus híbridos requer atenção quanto às regas. Geralmente orquidófilos cultivam num vaso com esfagno para manter o substrato sempre úmido. Na Natureza, mesmo os terrestres ou rupestres crescem em ambientes muito úmidos. Gostam de uma temperatura mais amena, pois, em geral, são encontrados a média altitude. Alguns terrestres são expostos ao sol pleno, sempre em maiores altitudes, mas em geral Zygopetalum prefere ambientes mais sombreados. A adubação pode ser feita de forma orgânica, utilizando o Bokashi ou com outro adubo tipo NPK 20-20-20 ou similar.

O ESPECIALISTA

ERWIN BOHNKE é orquidólogo há mais de 40 anos e dá palestras e cursos sobre orquídeas no Brasil e no exterior. Recentemente, mudou-se para Aracaju, onde mantém uma pequena produção de orquídeas e é presidente da Orquidófilos Associados de Sergipe (OASE).