Quantas vezes você já pensou em “largar tudo” e virar paisagista? Em pedir demissão do seu trabalho chato e viver de plantas? Eu fiz isso e te conto como foi pra mim

– Por Carol Costa 

Emagreça até 9 kg por semana com a dieta do limão!” Já tinha perdido as contas de quantas reportagens sobre regimes malucos eu tinha editado quando ainda levava outra vida, a de jornalista. Entediada, olhei pela janela. A manhã estava ensolarada lá fora. As grevíleas balançavam ao vento. As sibipirunas estavam em plena floração. Desci para tomar um café e encontrei um rapaz debruçado sobre o canteiro de clívias, dividindo as densas touceiras. Fui, então, tomada por aquele sentimento de pássaro engaiolado: “E se eu largasse tudo e fosse curtir a vida do lado de fora do ar condicionado? E se escrevesse sobre algo que eu realmente amasse? E se fizesse alguma coisa com plantas?”.

Isso foi há cinco anos, quando meus vídeos mais tosquinhos sobre orquídeas estavam bombando no YouTube sem que eu quisesse monetizá-los. As bancas de revistas estavam lotadas de publicações com chamadas do tipo “Vire seu próprio patrão!” ou “Trabalhe de casa, de pijamas, e ganhe mais que seu chefe”. Um título em especial me incomodava: “Faça seu primeiro milhão antes dos 30 anos”. Eu, na época com 34, me sentia velha, acabada, perdendo tempo.

Quando finalmente pedi demissão para abrir o Minhas Plantas, gastei todo meu FGTS no sonho de virar uma jornalista especializada em plantas. Fiz todo tipo de curso, inclusive os das modinhas de gestão, como Design Thinking ou Análise SWOT. Segui a cartilha completa da “empreendedora” – palavra que eu detestava, mas não encontrava outra pra me descrever. Aprendi a mentalizar um “valor” que eu queria retirar por mês, o tal salário “dos sonhos” que eu julgava ser merecedora.

Trabalhei duro, 15, 16 horas por dia. Trabalhei aos finais de semana. Trabalhei em aniversários de familiares, nas noites sem fim, madrugadas adentro. Achava que o dinheiro não entrava porque eu tinha de fazer mais cursos. Porque não estava preparada o bastante. Porque não tinha comprado os livros certos, nem feito o canvas correto do meu produto.

Eu nem sabia como fazer dinheiro. Devia abrir uma floricultura? Virar paisagista? Cuidar da implantação de jardins? Vender terrários? Trabalhar na decoração de casamentos? Não tinha essas respostas, então tentei de tudo. Abri CNPJ de floricultura, fiz curso de jardinagem, depois, de paisagismo, aprendi a montar terrários, participei de feiras, estudei arranjos florais. Em cada um desses, eu trabalhava ainda mais horas, mais domingos, me afastando dia a dia da praça, do parque, do gramado, do “lá fora” que eu tanto desejei.

Um dia, caiu a ficha. O tal do milhão, na verdade, era a cenoura amarrada na frente do cavalo, um estímulo a mais para a roda girar e eu comprar, comprar, comprar. Me fez consumir mais cursos, livros, serviços, coisas de que eu talvez nem precisasse se tivesse me focado no básico: eu amava as plantas, elas me amavam, eu poderia passar a vida toda trabalhando com elas. Talvez não ficasse rica. Talvez não fizesse um milhão nem aos 80 anos, mas o foco da minha nova carreira finalmente poderia voltar a ser aquilo que me atraiu desde o começo: o tesão, a vontade de fazer algo que me desse prazer.

Percebe a virada? Ela acontece quando você finalmente deixa de se distrair com o barulho do “compre”, “faça”, “emagreça” e encara o silêncio que vem de dentro. Aquele que só você conhece e do qual tanto foge. É ali que brotam as plantas mais raras, as flores mais belas da nossa existência. E esse canteiro, como é natural na jardinagem, não exige muito para ser cultivado. Bastam silêncio e disposição.

Hoje, gasto menos com tudo: roupas, sapatos, bolsas. Como mais em casa, o que gerou uma grande economia nos restaurantes e uma inestimável qualidade de vida. Minhas contas vivem entre o vermelho e o azul, mas eu não ligo mais. Tudo bem se eu não ganhar um milhão antes dos 40 – se eu puder plantar milhinhos na varanda, terá valido a pena.

Carol Costa é jornalista, jardinista e idealizadora do blog Minhas Plantas (www.minhasplantas.com.br). Tem uma coluna na rádio BandNews FM e apresenta o programa “Mais cor, por favor” no canal GNT