Por Eduardo Gonçalves

Quando se fala de “segredos de plantio”, todo mundo tem um há muito aprendido com um parente ou amigo. É aquele toque que promete esverdear até palha seca ou fazer brotar um pé de mesa, mesmo que seja de MDF. Tem amigo que não conta e ainda fica torcendo para que você implore pela revelação. De fato, já ouvi alguns que mudaram minha forma de cultivar mas, de modo geral, me arrisco a dizer que nosso segredo mais obscuro talvez nem seja tão segredo assim: no Brasil, não gostamos de fertilizar as plantas.

Tem gente que pensa que fertilizantes são aditivos exóticos para deixar as plantas mais fortes, o que é um erro. Todo organismo precisa capturar matéria e energia para permanecer vivo. Diferente de você, as plantas capturam toda a energia na forma de luz, então ficam livres para absorver por aí os cerca de 20 elementos químicos indispensáveis. Pelo menos três dos mais importantes ­­– o carbono, o oxigênio e o hidrogênio ­– podem ser obtidos diretamente do ar e da água. Isso é ótimo, já que 96% do peso seco de uma planta é formado apenas por esses três. Já os demais precisam ser retirados da terra, pelas raízes, na forma de sais minerais, e é justamente isso que geralmente negamos às pobres plantinhas.

Você pode até tocar música clássica, mas nesse momento este clorofito (Chlorophytum comosum) precisa mesmo é de um pouco de terra repleta de sais minerais. Crédito: Shutterstock

Talvez você esteja pensando que não somos tão ruins assim, já que todos esses minerais formam apenas 4% do peso seco de uma planta. Entretanto, são esses 4% que definem o futuro dos outros 96%. A começar pelo nitrogênio, elemento sem o qual é impossível a existência de três moléculas essenciais: proteínas, ácidos nucleicos e clorofila. Somente 1,6% do peso seco de uma planta é nitrogênio, mas tente deixá-la sem acesso a ele… o mesmo vale para o fósforo, importante na síntese de açúcares e do próprio DNA; e para o potássio, sem o qual a planta não consegue controlar a entrada e a saída de água. Juntos, estes dois contribuem com menos que 1,2% do peso seco, mas são tão importantes que seus símbolos químicos entram, junto com o do nitrogênio, no nome do mais usado fertilizante químico: NPK. Outros, como cálcio, magnésio e enxofre, são necessários em quantidades menores, e alguns, os chamados micronutrientes, apenas em quantidades ínfimas. O fato é que tais sais precisam estar lá para serem retirados do solo pelas plantas, ou elas não serão capazes de manter seus corpinhos construídos com energia da luz ou elementos do ar e da água.

A maior parte dos jardins é feita de terra empobrecida, seja pelo cultivo de longa data, seja pelo uso da pobre terra de subsolo na terraplanagem. Adubos orgânicos são excelentes, mas devem ser balanceados, já que muitos só contêm alguns nutrientes se oferecidos na forma pura. Como poucos são capazes de acertar essa equação, eu recomendo, pelo menos uma vez ao ano, uma aplicação de um adubo químico completo, misturado com composto orgânico. Com algumas poucas exceções – como plantas carnívoras, que não devem ser fertilizadas –, uma aplicação desses adubos nas doses recomendadas pelos fabricantes pode mudar seu jardim. Os resultados ficam ainda melhores com mais fertilização, mas para isso é necessário analisar caso a caso.

De tudo que mencionei, gostaria de deixar uma coisa como regra de ouro, exatamente o contrário de um segredo: quando você pensar em usar algum método maluco para fazer crescer suas plantas, como botar música clássica ou construir uma estufa em forma de pirâmide, pergunte a si mesmo se elas já tiveram acesso à fertilização. Se elas pudessem falar, não duvido que diriam: “Muito
interessante seu método, mas você poderia pagar a minha parte em minerais?”.

 

Eduardo Gomes Gonçalves é paisagista, doutor em Botânica, autor do livro Se não fugir, é planta! e escreve sobre curiosidades do mundo da biologia

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