Conheça a técnica desenvolvida a partir de
elementos da Natureza e as vantagens para o paisagismo
por Odilon Claro

O paisagismo vem se transformando. Essa é a minha percepção após mais de 25 anos atuando como paisagista. De um tempo para cá, vejo que os novos jardins estão se desprendendo das formas rígidas e artificiais, dando lugar a composições mais orgânicas, com foco na sustentabilidade e na harmonia com o meio ambiente.

Nos meus projetos, uma das formas que encontrei para alcançar essa integração, além do uso de espécies fáceis de manter e itens decorativos, foi por meio do uso de tinturas naturais — corantes orgânicos que não apenas embelezam, como também destacam todo esse ecossistema.

Se você ainda não conhece essa técnica que proporciona ótimos acabamentos ao jardim, as tinturas naturais podem ser conseguidas de várias maneiras. Eu uso pigmentos minerais e diluentes à base de água, mas podem ser feitas a partir de corantes extraídos de diversos elementos da Natureza, como terra, areia, plantas, carvão, cascas e raízes. Diferentemente das tintas sintéticas, que liberam gases nocivos ao meio ambiente e à saúde, as tinturas naturais não contêm Compostos Orgânicos Voláteis (os chamados COVs) nem outras substâncias tóxicas.

O uso pode ser tanto externo quanto interno e se integra perfeitamente com a decoração dos ambientes. Tudo fica muito mais sustentável. Foto: Divulgação

O que me encanta nas pinturas orgânicas é a forma como elas se harmonizam com o verde do jardim. Ao aplicá-las em muros, cercas e outros pontos do paisagismo, assim como nos ambientes internos, consigo criar uma continuidade visual entre as superfícies e a vegetação. E o melhor é que elas têm um tempo de vida similar às tintas químicas compradas em lojas especializadas e podem ser personalizadas para combinar com cada projeto de jardim. Isso as torna uma alternativa mais saudável e sustentável, especialmente para quem, como eu, busca respeitar o ciclo da Natureza, sem abrir mão da estética.

As tinturas orgânicas, por serem feitas a partir de materiais naturais, se harmonizam muito mais facilmente com o paisagismo, evitando o artificialismo das tintas industriais.
Foto: Divulgação

O tingimento natural para pintura de paredes não é uma técnica nova. Ela está voltando à moda mais recentemente, e é cada vez mais aplicada na atualidade por profissionais em busca do resgate a construções mais limpas e sustentáveis. Civilizações antigas, como os egípcios, os gregos e os romanos, já usavam pigmentos naturais para decorar templos, casas e tumbas. Povos indígenas também desenvolveram as suas próprias técnicas, usando extratos de plantas e terras locais para colorir as moradias e fazer arte rupestre.

O paisagista Odilon desenvolveu e comercializa a sua própria tinta, a Roca, à base de pigmentos minerais, mas existem diversas formas de conseguir a tintura natural a partir de corantes extraídos da Natureza. Uma das formas é coletando materiais secos e triturando-os até virarem um pó fino. Em seguida, o pigmento é misturado com um aglutinante, cal ou óleo de linhaça, para ajudar na fixação da cor. Misturado à água, o composto é deixado em repouso para, assim, concentrar o corante e, em seguida, ser aplicado na superfície com um pincel ou rolo. Para maior durabilidade, a pintura é selada com algum impermeabilizante orgânico.

Para ser orgânico de verdade, o jardim fica ainda melhor se forem usadas tintas feitas a partir de corantes extraídos da Natureza.
Foto: Divulgação

Odilon Claro é paisagista e escultor. Está há mais de 25 anos à frente da sua loja Anni Verdi, em São Paulo. Projeta jardins e lança tendências de decoração para o paisagismo, com peças autorais e inovadoras tinturas naturais. Os seus trabalhos podem ser conferidos em www.anniverdi.com.br ou nas redes sociais @anniverdi e @rocatintas.

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