Criado pelos donos da casa, este jardim em Londres impressiona pelo colorido, pela variedade de plantas e pelo bom aproveitamento do espaço
TEXTO CHRISTIANE FENYÖ | FOTOS VALERIO ROMAHN
Se tem um assunto do qual os ingleses entendem é jardinagem. Todos têm um quê de paisagista e criar sozinho jardins dignos de profissionais é um hobby nacional. Este, instalado nos fundos de uma típica casa londrina, é um bom exemplo.
Quando Alan Swann e Ahmed Farooqui compraram o imóvel, em 1996, o espaço estava coberto por concreto. Em dois anos, eles criaram o design básico – construíram o pergolado, o laguinho e o pequeno curso d’água – e depois começaram a experimentar plantas, até chegar à composição atual,
na qual predominam espécies com folhagens de cores e texturas contrastantes. “Nossa inspiração foram os jardins escoceses, que são capazes de se manter bonitos mesmo no pior dos climas”, diz Ahmed. Mas isso não significou abrir mão das flores. A cada estação, plantas diferentes florescem, mudando a cara do espaço.
Embora os canteiros fossem estreitos, os jardinistas tiveram a preocupação de criar três níveis de plantas com alturas distintas: primeiro vêm as pequenas árvores, cultivadas junto às paredes, depois os arbustos e, por último, as forrações.
Paisagem natural
O laguinho com plantas aquáticas é uma das principais atrações do jardim. Tanto que um banco de madeira foi estrategicamente colocado diante dele para compor um cantinho aconchegante. Ao lado do banco, as samambaias (Matteuccia struthiopteris) (1) cultivadas em um canteiro proporcionam verticalidade e leveza com suas folhas delicadas.
A água que alimenta o laguinho sai de uma fonte fixada em uma das paredes do jardim – ela é camuflada pela folhagem avermelhada do Acer palmatum do grupo Dissectum (2) e percorre um curso estreito em meio a plantas e pedras, até chegar ao laguinho.
Na outra margem, um canteiro rochoso serve de suporte para uma grande variedade de plantas alpinas – espécies que na Natureza crescem em solos rochosos em altitudes elevadas e que produzem flores pequenas, mas muito bonitas – distribuídas de forma aleatória. Na primavera, chamam a atenção as flores amarelo-claro do Erysimum kotschyanum (3) e as amarelo-ouro da Berberis x stenophylla ‘Corallina Compacta’ (4). Também enfeitam o espaço as rosetas suculentas e extremamente ornamentais de uma planta do gênero Saxifraga (5).
Plantas em níveis
Os canteiros junto aos muros são uma aula de paisagismo para pequenos espaços. Apesar de estreitos, eles contam com uma variedade de plantas impressionante, capazes não apenas de disfarçar as paredes, mas também de dar profundidade ao espaço.
“O segredo é plantá-las em níveis”, diz Alan. Junto à parede foram dispostas as árvores e arbustos maiores, como o ceanótus (Ceanothus ‘Concha’) (1), que dá um espetáculo na primavera, época em que suas minúsculas flores arroxeadas nascem agrupadas em inflorescências nas pontas dos ramos. Em seguida vêm os arbustos menores, como o Acer palmatum ‘Ellen’ (2), uma espécie que geralmente não passa de 1 m de altura e cujas folhas verde-claras mudam de cor no outono, ficando amareladas, e o Acer palmatum ‘Shindeshojo’ (3), cujas folhas em forma de estrela exibem um vibrante colorido avermelhado. O acabamento dos canteiros fica por conta de herbáceas perenes como a saxifraga (Saxifraga x urbium ‘Clarence Elliot’) (4), a aquilégia-comum (Aquilegia vulgaris) (5) e a ajuga (Ajuga reptans) (6), que florescem no fim da primavera. A primeira é uma planta alpina cujas flores pintam o jardim de rosa. Já a aquilégia-comum tem flores um pouco maiores e arroxeadas. A ajuga, por sua vez, produz minúsculas flores espigadas, também em tom de roxo.
Vasos e peças decorativas
Uma série de objetos confeccionados por Ahmed ajudam a dar dinamismo aos canteiros. Um exemplo é a “bacia” com Heuchera sanguinea ‘Ruby Bells’ (1), que foi acomodada sobre uma estrutura de ferro elevada, para que outras espécies pudessem ser cultivadas sob ela. A samambaia Blechnum penna-marina subsp. alpina (2) e a X Heucherella ‘Brass Lantern’ (3) são duas delas. Extremamente ornamental, esta última planta tem folhas vistosas – na maior parte do ano elas mesclam tons de vermelho e dourado, mas ficam cor de chocolate no inverno – e inflorescências espigadas compostas por minúsculas flores brancas, que surgem no fim da primavera e início do verão.
O vaso de barro com hera-variegada (Hedera helix ‘Variegata’) (4) foi disposto sobre uma coluna esculpida por Ahmed, o que valoriza os ramos pendentes da planta. A folhagem verde e branca contrasta com as folhas ainda verdes do ácer (Acer Palmatum ‘Shishi-yatsubusa’) (5) – no outono elas ficam vermelhas – e com as delicadas flores amarelas da Sanvitalia speciosa (6), usada para forrar a coluna.
Samambaias por todos os lados
Um detalhe que chama muito a atenção nesse jardim é a grande quantidade de samambaias terrestres cultivadas em canteiros e também entre pedras. Entre elas estão plantas de folhagem extremamente texturizada, como o Polystichum setiferum ‘Herrenhausen’ (1), que atinge no máximo 60 cm de altura, e outras mais baixas, caso do Polystichum setiferum ‘Plumosomultilobum’ (2), que não passa dos 50 cm de altura e cujas folhas impressionam pela delicadeza.
Embora essas espécies não estejam disponíveis no Brasil, a ideia de cultivar samambaias terrestres em meio a outras plantas é uma ótima sacada que pode ser copiada. Uma dica é usar espécies como o samambaiaçu-do-brejo (Blechnum brasiliense) e a samambaia-do-mato (Dryopteris eriocaulis), essas sim bem comuns por aqui.