As flores dessas orquídeas parecem ter rostos estampados, mas só despontam se todas suas exigências forem atendidas
TEXTO: Erwin Bohnke | FOTOS: Acervo Natureza
Tomei um susto quando, em 2010, um amigo orquidófilo apareceu em casa acompanhado de um americano. Era ninguém menos que Carlyle August Luer querendo conhecer minha pequena coleção de micro-orquídeas, a maioria delas do gênero Pleurothallis (hoje já reclassificadas). Luer (1922 – 2019) era uma sumidade em Pleurothallidinae, a subtribo de orquídeas que engloba mais de 100 gêneros, entre os quais Pleurothallis, Masdevallia e Dracula, aquelas que parecem ter monstrinhos estampados nas flores. Foi ele quem escreveu a famosa Icones Pleurothallidinarum, uma coleção em 31 volumes que fala sobre cerca de 4.000 espécies de Pleurothallidinae. É também coautor de Thesaurus Dracularum, com sete volumes; de Treasure of Masdevallia, com 21 volumes; e de várias outras publicações.
Ao longo de sua vida, Luer descreveu centenas de espécies de Pleurothallidinae e, em 1975, já antevia a revisão e a reclassificação de muitos gêneros de orquídeas, algo que só ocorreria mais tarde, com base na filogenia. Em seus estudos, ele viu que havia entre as Masdevallia um grupo de orquídeas com características que não se encaixavam no gênero. Elas tinham diferenças visíveis tanto na planta, que era mais fina e apresentava folhas mais largas, quanto nas flores, que tinham sépalas com caudas mais compridas, e isso o levou a criar o gênero Dracula.
Só para lembrar, Dracula é uma palavra paroxítona, então a sílaba tônica é a penúltima. Dracula vem do latim Draco, que significa dragão. Em romeno, Dracul significa diabo, e Luer escolheu este nome porque as flores dessas orquídeas têm uma forma bem esquisita e, por causa da pareidolia, as pessoas costumam enxergar nelas as figuras de monstrinhos ou animais. Da mesma forma que as Masdevallia, as Dracula têm suas três sépalas unidas, com terminações em forma de filetes. O labelo se assemelha a um cogumelo, e as pétalas minúsculas e escuras parecem formar os olhos. Ficam separadas pela coluna, que às vezes forma o nariz da criatura.
Cuidado com o clima, cuidado com a água
As Dracula ocorrem na Cordilheira dos Andes, na América do Sul, e em montanhas da América Central e do México, sempre em altitudes elevadas, onde o frio é uma constante. A umidade relativa do ar é alta, e os ventos, muito fortes. Tanto que, com raras exceções, as flores surgem sempre por baixo da planta. Por conta dessas exigências, o cultivo delas é um desafio para os orquidófilos brasileiros. Poucos conseguem ter sucesso, mas, se quiser tentar, plante-as em caixetas de madeira, de preferência utilizando musgo
vivo como substrato. Pendure em local bem ventilado e com clima ameno para frio (entre 10 oC e 25 oC).
A rega é outro obstáculo: as Dracula não gostam de água clorada ou com excesso de sais e não toleram
encharcamentos. Assim, o ideal é usar água da chuva, ou então deixar a água da torneira repousar por algumas horas antes de usar na irrigação. Mantenha a orquídea sob meia-sombra e, na hora da adubação, use uma dose de fertilizante menor do que a adotada para outras orquídeas. Eu costumo
dissolver uma colher de café de NPK 20-20-20 em cinco litros de água e aplico a cada 15 dias.
Nomes curiosos
Por causa da aparência inusitada das flores, as Draculas foram batizadas com nomes curiosos, muitas vezes remetendo a animais, monstros e seres mitológicos. Conheça algumas:
O ESPECIALISTA
ERWIN BOHNKE é orquidólogo há mais de 40 anos e dá palestras e cursos sobre orquídeas no Brasil e no exterior. Recentemente, mudou-se para Aracaju, onde mantém uma pequena produção de orquídeas e é presidente da Orquidófilos Associados de Sergipe (OASE).