Texto: Edilson Giacon Fotos: Gustavo Giacon

O vasto mundo das frutíferas oferece uma riqueza que vai muito além das tradicionais tangerinas e mangas.

Tenho um carinho especial pelos menores cítricos do mundo, que valem a pena ser cultivados não apenas pelo sabor único, mas também pelo prazer de ter algo raro e curioso. É difícil encontrar quem não se encante por eles.
Existem outras curiosidades fascinantes, como uma nativa brasileira que lembra a groselha europeia; e a pixirica, uma frutinha que tinge a língua de roxo, divertindo as crianças. Experimente incluir essas raridades no seu jardim e veja seu paisagismo ganhar uma nova dimensão.

MICRO-CÍTRICOS

Você nunca viu nada igual

São três espécies de frutíferas notáveis pela pequenez de seus frutos, que são do tamanho de grãos de feijão ou um pouco maiores. O que as torna ainda mais especiais é a casca perfumada, a polpa doce e agradável, e a facilidade de cultivo. São verdadeiras joias para qualquer jardim.

Limãozinho-vermelho-doce

LIMÃOZINHO-VERMELHO-DOCE(Triphasia trifolia )

Conhecido como limeberry, esse arbusto do Sudeste Asiático é favorito entre os bonsaístas. Não ultrapassa dois metros de altura e, em vaso, já começa a frutificar quando atinge 30 cm. Produz abundantemente pequenos frutos vermelhos, saborosos e adocicados.

Minitangerina Ponkan

MINITANGERINA PONKAN(Citrus japonica ‘Kinz’)

Não passa de 1 metro de altura e frutifica quase o ano todo. É muito adaptável e de fácil cultivo. Prefere sol pleno e solos bem drenados. Só não gosta de local encharcado.

Severinia-chinesa

SEVERINIA-CHINESA (Atalantia buxifolia)

Essa arvoreta nativa do sul da China é ornamental e muito produtiva. Antigamente chamada de Severinia buxifolia, seus pequenos frutos negros são aquosos, doces e apreciados tanto por humanos quanto por pássaros. Rústica, adapta-se ao sol pleno ou à meia-sombra e começa a frutificar entre um e dois anos após o plantio. Ela é ótima também para arborização urbana e suas flores brancas e perfumadas são muito visitadas pelas abelhas melíferas, além dos frutos que os pássaros adoram.

CÍTRICOS DE FOLHAS VARIEGADAS

Se as plantas com folhas variegadas sempre atraem a atenção, no caso das frutíferas, elas se tornam perfeitas para serem usadas no paisagismo integradas a outras plantas ou em vasos.

Limão-cravo-variegado

LIMÃO-CRAVO-VARIEGADO(Citrus × limon ‘Variegata’)

Também chamado de rosa, capeta ou vinagre, esse limão é uma variedade natural do tradicional limão-cravo. Tem ainda o diferencial de ser difícil de encontrar, o que só recomenda o seu uso. Frutifica bastante e dá frutos arredondados muito suculentos, porém ácidos, perfeitos para serem usados como tempero ou em sucos.

Limão-galego-variegado

LIMÃO-GALEGO-VARIEGADO – (Citrus × aurantiifolia ‘Variegata’)

Produz frutos de casca fina e polpa muito suculenta excelente para o preparo de limonadas, caipirinhas, sorvetes e até ser usado como tempero no lugar do vinagre.

Tangerina-ponkan-variegada

TANGERINA-PONKAN-VARIEGADA – (Citrus reticulata ‘Ponkan Variegata’)

Se a tangerina ponkan já é a rainha dos pomares e muito integrada ao paisagismo, esse cultivar dá um espetáculo à parte tanto pelas folhas quanto pelos frutos, todos vestidos de verde e amarelo. Mais recomendada ainda porque a variedade, infelizmente, é muito rara, quase extinta nos quintais brasileiros. Dá frutos ácidos, mas muito saborosos.

A SIMILAR BRASILEIRA DA GROSELHA

chal-chal

Se você nunca viu um pé de groselha, não se sinta sozinho. É que tanto a planta quanto o xarope derivados do fruto da árvore groselha, o Ribes rubrum, é bem raro mesmo. A espécie é nativa do hemisfério norte, crescendo em áreas montanhosas com climas frios e nebulosos — condição que não é encontrada facilmente no Brasil. E, a propósito, o xarope de groselha vendido por aí é feito artificialmente. Curiosamente, no Brasil, temos uma frutífera nativa que oferece frutos semelhantes e igualmente deliciosos, consumidos tanto in natura quanto na forma de xarope. Estamos falando do chal-chal (Allophylus edulis), um arbusto que pode atingir até 7 metros de altura. O nome “chal-chal” é uma homenagem ao chal-baeta ou tiê-sangue, uma ave vibrante e vermelha-sangue, símbolo da Mata Atlântica, que é particularmente fã desses frutos.

Prabhoda D Herath – Shutterstock
Maren Winter – Shutterstock

XAROPE DE GROSELHA NATIVA
. Bata 3 kg de chal-chal no liquidificador com um pouco de água.
. Com uma peneira, separe o suco e descarte a polpa.
. Misture o suco com 1 quilo de açúcar e leve ao fogo para ferver até apurar e ficar em ponto de xarope.
. Espere esfriar e guarde na geladeira.
.O xarope, depois pode ser diluído para o preparo de sucos e receitas diversas.

COMA PIXIRICAS E FIQUE COM A LÍNGUA ROXA

A Miconia crenata, um arbusto nativo do Brasil, é popularmente conhecida como pixirica, termo de origem indígena que se traduz como “árvore que cura” ou “fruta que tinge a língua”. Esse arbusto é muito importante por seus pequenos frutos arroxeados, que são ricos em vitamina C e antioxidantes. É ainda uma diversão para as crianças indígenas, que os comem para colorir a língua de azul.

pixiricas

Além de frutos saborosos, a pixirica se destaca-se pela bela folhagem repleta de nervuras e delicadas flores brancas. De porte pequeno, adapta-se bem a espaços reduzidos no jardim e a locais sombreados, sendo ideal para o cultivo em vasos ou como cerca viva.
Como uma PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais), ela é encontrada espontaneamente em quase todo o território brasileiro, oferecendo tanto valor estético quanto nutricional.

A folhagem da pixirica é muito bonita e fica bem no paisagismo.
Mas é o fruto arroxeado que faz a alegria das crianças por tingir a língua

EDILSON GIACON tem mais de 40 anos de experiência na produção de espécies ornamentais, frutíferas, nativas e plantas em risco de extinção. É proprietário da Ciprest Mudas e Plantas.