POR ROBERTO ARAÚJO | FOTOS VALERIO ROMAHN
Ser arrumadinho não é com o tataré (Chloroleucon tortum). Ele tem tronco e galhos bem fora do convencional e fica sensacional no paisagismo
Não basta ter uma beleza incomum, ter sido divulgado por Burle Marx e ser nativo brasileiro. O tataré está classificado como em “perigo crítico de extinção” pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. Nativo da Mata Atlântica do Rio de Janeiro, é raro nos jardins e bem pouco conhecido dos paisagistas. A verdade é que ele não está naquela lista bem curtinha de plantas que quase todo jardim tem. E, com isso, corre o risco de desaparecer.
A graça do tataré é, evidentemente, seu tronco e seus galhos. Todo tortuoso (daí o nome da espécie), muito ramificado e de copa larga, pode atingir cerca de 50 cm de diâmetro na base e tem casca lisa, esbranquiçada e espinhenta. Quando descama, mostra uma madeira branca e marmorizada. Lembra um pouco o pau-ferro (Caesalpinia leiostachya), embora ganhe disparado no item beleza e tenha tamanho muito menor — até uns 12 metros de altura —, o que permite seu uso até em jardins pequenos. É bom também no paisagismo de pequenos espaços, porque cresce devagar. Tanto que demora uns 2 anos para chegar até 2,5 metros.
Embora não seja famoso por elas, as flores do tataré são muito bonitas, em forma de pompom, e costumam aparecer entre outubro e novembro. Os frutos são um caso à parte de tão interessantes: até seu “legume” (como são chamados os frutos que se abrem por duas fendas laterais) é todo contorcido, a ponto de sequer parecer uma vagem. Fica muito mais parecido com uma bolota enevolada. Tanto que seu antigo nome científico era Pythecolobium, uma referência à orelha de macaco, com o que se assemelha.
Queridinha do Burle Marx
O genial Roberto Burle Marx consagrou o tataré no paisagismo que fez no aterro do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro. Ficou tão impressionado com a espécie que em 1964 usou a forma de seus galhos tortuosos para fazer uma gravura abstrata.
Seu exemplo no paisagismo urbano ensina que, além dos jardins, ela pode ser usada em praças e parques. Por ser muito resistente, é ótima para ser usada na reconstrução de áreas degradadas. Nativo da Mata Atlântica do Rio de Janeiro, gosta de solo bem drenado e de muita água. Vai muito bem em vasos e fica rapidinho parecendo uma planta madura.
O uso em vasos é mais do que recomendado. Tanto que é uma das plantas favoritas dos bonsaístas. Em qualquer de suas formas, porém, o tataré sempre desperta um certo sentimento de estranheza que faz com que as crianças sempre associam suas formas ao mundo mágico, favorecendo a invenção de histórias e brincadeiras.
Perfeita para bonsai, se o tataré é pouco usado no paisagismo, faz um tremendo sucesso como bonsai em todo o mundo. Seus galhos tortos dão a aparência de árvores maduras e a descamação faz com que ela tenha uma aparência envelhecida mesmo nos primeiros tempos. É também muito fácil de modelar, já que os galhos entortam mesmo sem aramação. Basta fazer a poda correta. Internacionalmente, é chamada de “brazilian raintree”, porque gosta muito de água e do ambiente úmido de suas origens na Mata Atlântica do Rio de Janeiro.
Não se deixe enganar, porém, pelos galhos tortuosos, pensando como se fosse uma árvore do Cerrado. Não tem nada a ver. Por ser endêmica da Mata Atlântica, deve ser cultivada em solo arenoso, porém rico em matéria orgânica. Nos vasos, as regas devem ser constantes para que o substrato não seque, mas jamais deve ficar encharcado. A adubação deve ser caprichada no período de crescimento. Cultivar por sementes não é muito fácil, porque poucas se desenvolvem e demoram cerca de 30 dias para brotar. Virtudes e motivos não faltam portanto pra você agregar um tataré a seu jardim ou paisagismo. Seu aspecto escultural sempre vai chamar a atenção e, por isso, ele é perfeito para ser uma atração visual irresistível a qualquer pessoa, até para quem não é ligado em plantas e jardins. Além de ajudar o seu projeto, você ainda vai estar usando uma nativa brasileira que está em perigo crítico de extinção. Vai provar também que é capaz de ir além daquela batida lista de árvores que todo mundo usa.
Essa reportagem foi publicada na edição 421 da Revista Natureza. Para adquirir, clique aqui.