Saiba mais sobre os encantos da alcachofra, a herbácea que dá um espetáculo na mesa e no jardim
TEXTO LAURA NEAIME
Ter uma alcachofra (Cynara scolymus) em casa é conviver com o constante dilema: deixá-la florescer e presenciar o espetáculo roxo criado por suas brácteas e pétalas ou colhê-la antes do tempo e render-se ao delicioso sabor de sua inflorescência carnuda, que faz sucesso em uma infinidade de pratos da culinária mundo afora. Não há meio-termo: se abrir, a flor estará imprópria para o consumo. Seja qual for a sua escolha, uma coisa é fato: vale a pena reservar um espacinho no jardim para esta espécie tão versátil.
Originária da região mediterrânea – que inclui países como França, Espanha, Itália e Marrocos –, a alcachofra é prima do girassol e da margarida e, com seu sabor inconfundível, conquistou o Oriente Médio e o ocidente. A influência do Marrocos na popularização da iguaria evidencia-se nos nomes adotados em diversas partes do mundo para designá-la: artichoke, em inglês; artichaut, em francês; e srtischocke, em alemão, só para citar alguns exemplos, todos variações de al´qarshuf, sua designação em árabe.
Já o nome científico, inspirado na mitologia grega, é uma referência a Cynara, uma jovem que, depois de passar uma temporada no Monte Olimpo, a convite de Zeus, decidiu retornar à Terra. Desgostoso com a atitude, o deus dos raios puniu a garota transformando-a na igualmente atraente Cynara scolymus.
Motivos para deixá-la florir
Passar batido por um canteiro que ostenta a deliciosa alcachofra é um desafio e tanto. Isso porque a herbácea representa uma alternativa bastante exótica – e ainda pouco explorada – para criar um ponto de destaque no paisagismo. Do inverno até o verão, as inflorescências da espécie se formam no ápice de longas hastes florais, de até 1 m de altura. Quando se abrem, as estreitas flores liláses formam um tufo colorido envolto pelas brácteas dispostas como escamas, que vão do roxo escuro ao verde. Uma única muda é capaz de gerar até sete flores de uma só vez e pode ser mantida no canteiro por até cinco anos com alta produtividade. Após esse período, a florada perde intensidade.
O produtor George Osako explica que a cor das inflorescências pode variar de acordo com a exposição ao sol: “para deixar as brácteas bem roxinhas, embrulho as inflorescências com jornal assim que elas despontam. O sabor da planta não muda, mas a aparência fica ainda mais apetitosa”. Tal procedimento é válido tanto para quem cultiva a alcachofra para o consumo quanto para quem prefere usá-la como flor de corte.
Mesmo fora do período de floração, a espécie mantém o jardim vistoso, pois é dotada de folhas muito ornamentais. Bastante lobadas e acinzentadas, elas formam atraentes rosetas de 2 m de diâmetro. O uso mais comum da alcachofra é como planta isolada, já que, como se não bastasse o fato de ela ocupar bastante espaço, são necessários mais 2 m de espaço entre as mudas. Outro motivo para cultivá-la em pontos isolados e longe de caminhos e passagens é o fato de sua folhagem ser coberta por espinhos.
No Brasil, a Cynara scolymus se adapta bem a regiões de clima tropical de altitude ou serrano, como as cidades de São Roque e Piedade, no interior paulista. A única ressalva feita por George é evitar locais sujeitos a geadas, que podem queimar as inflorescências.
No que se refere às pragas, os ataques mais comuns são os de lagartas e pulgões, que podem ser combatidos com defensivos naturais, como o óleo de neem, ou com a remoção manual.
Sabor acima da beleza
Considerada uma das mais saborosas flores existentes, a alcachofra raramente tem a chance de florir, pois seu consumo se dá quando as inflorescências ainda estão imaturas. Nessa fase, as brácteas apresentam um “recheio” carnoso que costuma ser consumido na forma de saladas ou acompanhado de molhos. O capítulo – ponto de partida do desenvolvimento das flores – também consiste de uma massa acinzentada e é muito utilizado no preparo de conservas.
Com lugar garantido nas dietas de emagrecimento – 100 g da polpa cozida da planta não têm mais do que 50 kcal – a alcachofra é rica em fibras e água. Tal dupla é responsável por garantir saciedade e estimular o sistema digestivo de quem a consome.
Entretanto, vale ressaltar que a maior concentração nutricional da espécie reside em uma estrutura menos saborosa: a folhagem. O extrato das folhas da alcachofra – que pode ser consumido em forma de cápsulas, xaropes ou chás – contribui no tratamento de diabetes, doenças cardíacas e renais. No primeiro caso, seu poder está na alta concentração de ciarina, substância capaz de regular os níveis de açúcar no sangue. Já o potássio tem ação diurética, contribuindo para o bom funcionamento dos rins e do coração.
Lasanha de alcachofra
Ingredientes
• 500 g de massa de lasanha
• 500 g de fundo de alcachofra
• 500 g de muçarela fatiada
• 1 l de leite
• 5 colheres de sopa de amido de milho
• 5 colheres de sopa de margarina
• 1 cebola média
• Salsinha, noz-moscada, sal e pimenta-do-reino a gosto
Modo de preparo
Refogue a alcachofra picada com a cebola e os demais temperos no azeite. Reserve.
Em outra panela, coloque 750 ml de leite, a cebola ralada, a salsinha, a pimenta, a noz-moscada e a margarina. Quando começar a ferver, acrescente o amido de milho dissolvido no restante do leite e mexa até engrossar. Junte à alcachofra refogada e misture.
Em um refratário, espalhe um pouco de molho, seguido por uma sequência de massa, muçarela e creme. Repita o procedimento até acabar os ingredientes. Finalize com o molho e polvilhe parmesão. Leve ao forno e deixe dourar.
Alcachofra em detalhes
Nome popular: alcachofra
Nome científico: Cynara scolymus
Família: asteráceas
Origem: região mediterrânea (Itália, Espanha, França e Marrocos)
Características: herbácea perene de até 1 m de altura
Folhas: com até 1 m de comprimento, são muito lobadas, espinhentas e formam uma roseta verde-acinzentada
Flores: estreitas e arroxeadas, surgem do inverno ao verão formando um tufo no centro da inflorescência – composta também pelas brácteas dispostas como escamas ao redor da estrutura principal
Luz: sol pleno
Solo: arenoargiloso, rico em matéria orgânica, mantido úmido e bem drenado
Clima: subtropical árido, tolerante ao tropical de altitude ou serrano, desde que não seja exposta a geadas
Plantio: a planta deve ser colocada em um berço do mesmo tamanho que o torrão da muda e coberta pela terra retirada acrescida de um punhado de farinha de osso e torta de mamona. No primeiro mês após o plantio, regue-a diariamente
Regas: em dias alternados
Podas: apenas para controlar o crescimento da folhagem
Reprodução: por sementes ou mudas que nascem ao redor da planta-mãe