Típicas do Brasil, eles são árvores muito úteis que ainda dão um show que se prolonga por
muitos meses, nas mais diversas cores

TEXTO: Silvia Jeha | FOTO: Angela_Macario – Shutterstock

Acredito que os ipês sejam as árvores mais lindas do Brasil. Quando perdem suas folhas e transformam suas copas em gigantescos “buquês” de flores amarelas, roxas, rosas ou brancas, é como se a natureza encenasse um dos seus mais belos espetáculos. Para tornar tudo ainda mais impressionante, esse show se prolonga por meses, já que as diferentes espécies de ipê florescem em sequência, evitando uma sobreposição de cores. Mesmo após a floração, as pétalas que caem ao solo formam tapetes floridos, criando um cenário que é, por si só, outro espetáculo.

Além de sua beleza cênica, os ipês carregam uma simbologia de força e resiliência, refletida no significado de seu nome, que vem do tupi e significa “casca dura”. Essa referência se deve à sua madeira extremamente resistente, amplamente utilizada em construções, móveis e instrumentos musicais. Originários da América do Sul, os ipês estão presentes em uma variedade de biomas brasileiros, como a Caatinga, o Cerrado e a Mata Atlântica, adaptando-se com maestria a diferentes ecossistemas e enchendo a paisagem de vida e cor a cada floração.

FOTO: Tappasan Phurisamrit – Shutterstock


Aqui na região Sudeste, o inverno marca o início da florada dos ipês, um espetáculo que se estende até o começo da primavera. Sinto que eles com suas cores trazem alegria e transformam o cenário urbano, seja com as copas ou com os belos tapetes de flores caídas ao chão. São presentes para os olhos e alívio para a alma. Não é por acaso que a gente se sente tão bem ao admirar suas flores. A psicóloga Amanda Paz Amaral explica que “quando nossos olhos veem algo bonito e agradável, liberamos hormônios de bem-estar, que são altamente benéficos ao nosso organismo, mesmo que por um breve instante. A beleza das flores nos toca de forma natural, até para aqueles que não têm afinidade com o cultivo de plantas”.

Os ipês são caducifólias, ou seja, perdem todas as folhas para dar lugar aos cachos de flores coloridas, que podem ser roxas (às vezes confundidas com rosa), amarelas, brancas e, no caso do ipê-rosa, que é o único a não perder as folhas. Algumas espécies podem alcançar até 30 metros de altura, e a florada segue um ciclo específico de acordo com o fotoperíodo, como explica a agrônoma Dionete Santin, da Esalq-USP.

FOTO: marianaortiz – Shutterstock

No entanto, devido às mudanças climáticas, já não é incomum vermos diferentes cores de ipês florescendo ao mesmo tempo. “Mudanças de temperatura, como dias de inverno com clima de verão, interferem nesse ciclo, gerando floradas adiantadas ou retardadas, mais curtas ou mais longas”, diz Santin.

Amo a sabedoria das árvores. Quando submetidos ao estresse da seca, por exemplo, os ipês intensificam sua florada como uma estratégia de sobrevivência, assegurando a perpetuação da espécie.

FOTO: Opachevsky Irina – Shutterstock

Há alguns anos, me deparei com uma lenda sobre os ipês que gostaria de compartilhar aqui. A história diz que, quando o Criador estava moldando o mundo, pediu a todas as árvores que escolhessem a estação em que gostariam de florescer. Todos optaram pela primavera, verão uns poucos para o outono. Pelo inverno ninguém se interessou, por ser frio, seco e propenso a queimadas. Até que uma árvore no fundo da reunião, chamada ipê, levantou-se e, corajosamente, ofereceu-se para florescer no inverno. O Criador, agradecido, prometeu que ela teria flores não de uma, mas de várias cores, para que o inverno também fosse colorido e belo. E assim o ipê se tornou a árvore símbolo do inverno, florindo em diversas tonalidades. Talvez por isso tenho para mim a antiga frase que recomenda que possamos ser como os ipês, capazes de florescer nos invernos da vida.

Silvia Jeha é herborista e nutricionista formada em 1988. Sócia do viveiro Sabor de Fazenda, acredita que o contato com a terra é a essência do nutricionismo.

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