Quando ele ainda era uma mudinha, viajou por três dias no colo e hoje é uma árvore imensa que abriga orquídeas e pássaros

TEXTO: Silvia Jeha | FOTO: Pavaphon Supanantananont – Shutterstock

Todo mundo tem uma árvore favorita ou pelo menos uma que chama mais a atenção no meio de tantas outras. Na verdade, nesse universo maravilhoso das árvores, é difícil gostar apenas de uma. Eu gosto de muitas. Adoro observar os diferentes tons de verde, os formatos das folhas, os troncos, as florações, os frutos e as sementes.
Dentre as que me encantam, há uma que me traz alegria e paz, talvez pela sua copa que parece um grande abraço. Quando florida, então, fica escandalosamente linda. Estou falando do flamboyant (Delonix regia), também conhecido como acácia-rubra, flamboiã, flor-do-paraíso, pau-rosa, árvore-flamejante (de origem francesa, o nome Flamboyant significa “flamejante”).

Flamboyant (Delonix regia)


Originária de Madagascar, da família Fabaceae, é cultivada amplamente em regiões tropicais e subtropicais. Aqui no Brasil é encontrada em várias regiões, de norte a sul. A sua floração encanta com as flores em diversos tons de amarelo, salmão, laranja e vermelho que aparecem de outubro a janeiro, durante a primavera e o verão.

Mas o que eu quero contar é sobre o meu flamboyant viajante. Em 1994, quando ainda namorava o Paulinho, pai das minhas filhas Luisa e Isabel, ele tinha, junto com o seu irmão André e três amigos, Kiko, Silvia e Waguinho, uma casa de pescador em Itaúnas, no Espírito Santo, famosa pelas dunas que cobriram a antiga vila na década de 1970. O seu vizinho, seu Gilbertinho, tinha um grande flamboyant perto de casa. As ruas da vila eram de areia, terra e grama, por isso as árvores tinham espaço para se desenvolver tão lindamente, pois não eram plantadas em “minúsculos quadrados” como nas grandes cidades. Um flamboyant plantado no lugar certo, com condições adequadas, pode chegar a 12 metros e viver até 70 anos. Mas, nas cidades, por não terem as condições ideais, dificilmente ultrapassam os 40 anos.

FOTO: Paulo Bueno


Quando íamos para lá, eu ficava admirando aquele gigante flamboyant e pensava: quero levar uma muda para casa. Geralmente, as mudas são feitas por meio de sementes e, alguns dias antes de ir embora daquelas férias, fui dar uma olhada para catar alguma semente e me deparei com uma pequena muda já brotando ao pé da árvore. Não tive dúvida: arrumei uma garrafa PET, enchi com aquela terra arenosa e tirei delicadamente a muda que acomodei na garrafa. Deixei em um local sombreado e arejado, e mantive úmida até o dia de viajar. A volta de lá demorou três dias, pois fomos parando em outras cidades, e, pasme, a muda veio no meu colo a viagem inteira!

Chegando em São Paulo, plantei-a em um vaso maior até que ficasse forte para transplantá-la para o chão. Ainda não tinha certeza de que a minha muda daquele flamboyant viajante pegaria, até que, após três semanas, apareceu uma folhinha nova. Eba! Acho que tudo deu certo.

FOTO: Renato Jefferson

Naquela época, o Viveiro Sabor de Fazenda não era onde é hoje. Por dois anos, essa muda morou em um vaso. Em 1996, foi plantada no chão, na entrada do viveiro, e, até hoje, dá as boas-vindas a quem vem nos visitar. Também serve de moradia para ninhos de pássaros e para diferentes orquídeas do projeto OHquidea, do amigo César Kawamura, resgatadas quando não estão mais com flor e assim recolocadas em viveiros e praças.

FOTO: Renato Jefferson

Fico sempre pensando: se esta árvore tem 30 anos de idade, mas a muda veio de uma árvore adulta, quantos anos ela realmente tem na sequência da qual faz parte? Quantas histórias ela carrega e quantas ainda estão por vir? É fascinante pensar no ciclo de vida das árvores e como elas conectam gerações, criando memórias que perduram no tempo.

SILVIA JEHA é herborista e nutricionista formada em 1988. Sócia do viveiro Sabor de Fazenda, acredita que o contato com a terra é a essência do nutricionismo.

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