Conheça algumas espécies de plantas que dão flores justamente quando os termômetros indicam temperaturas perto ou abaixo de zero
TEXTO Heloísa Cestari
A primavera pode até ser a estação das flores, mas a natureza mostra que, desde que se aposte nas plantas certas, é possível ter um jardim florido em qualquer época, inclusive no inverno. E isso vale até mesmo para os países onde o frio é bem mais rigoroso que no Brasil.
Em algumas regiões da Europa, por exemplo, não é raro ver montanhas ainda cobertas de neve e gelo salpicadas pelas cores intensas de uma tulipa ou de uma flor-do-gelo (Sarcodes sanguinea), cujas inflorescências vermelho escarlate, reluzentes como um rubi, surgem anunciando a chegada da primavera. Conheça algumas plantas que começam a se encher de flores quando o solo ainda está coberto por neve e gelo.
Crocus: amor que resiste ao tempo
Reza a lenda que, contra a vontade dos deuses, o jovem Crocus apaixonou-se perdidamente pela ninfa Smilace. Como castigo, os dois foram transformados em plantas. Hoje, a que leva o seu nome é considerada um símbolo de fertilidade usado para decorar a cama de recém-casados na noite de núpcias. Histórias à parte, o fato é que o crocus sabe pôr um fim à frieza do inverno com suas pétalas de tonalidades vibrantes, capazes de resistir até mesmo a temperaturas negativas, como um amor que nunca esmorece.
Embora haja centenas de espécies, as mais conhecidas são o Crocus vernus – que tem flores grandes, cheias de volume – e o Crocus sativus, famoso por ser a planta de cujos estigmas é extraído o verdadeiro açafrão. Detalhe: são necessárias 150 mil flores para se obter um quilo da especiaria, muito usada em pratos típicos da culinária europeia, como a paella espanhola.
Tulipa: a mensageira da primavera
Ao contrário do que muita gente imagina, a tulipa não é originária da Holanda, e sim da Turquia, onde tinha status de joia e só podia ser cultivada em jardins da realeza. Até que o botânico Conrad Von Gesner a levou para os Países Baixos e a flor tornou-se uma paixão nacional por lá, a ponto de seus bulbos representarem a quarta maior fonte de renda do país – momento que entrou para a história como “tulipamania”. Hoje, a Holanda é a maior produtora de tulipas do mundo e exporta 2 bilhões de bulbos para mais de 80 países, inclusive o Brasil.
Além da indiscutível beleza, uma característica que faz a tulipa tão especial é a resistência ao frio. Conhecida como “mensageira da primavera”, ela mantém seu viço e elegância até na neve e sobrevive bem às geadas. Por isso, se um dia você receber um vaso de tulipas, mantenha-o em um ambiente fresco e com boa luminosidade. No Brasil, especialistas no seu cultivo também sugerem colocar algumas pedras de gelo sobre o substrato, pela manhã e ao entardecer, para amenizar o calor.
Após a floração, vários produtores de Holambra, no interior de São Paulo, mantêm os vasos por dois períodos de seis meses em um congelador, com temperatura entre 2 ºC e 5 ºC, para que as tulipas se sintam no inverno europeu e voltem a florescer 30 a 50 dias após o seu descongelamento.
Snowdrop: a esperança de uma nova vida
Traduzido do inglês, o próprio nome já diz tudo: branca e aparentemente delicada como um floco de neve, a snowdrop (Galanthus nivalis) tem a capacidade de se multiplicar rapidamente quando encontra um ambiente agradável – o que, para essa espécie, significa um lugar frio e protegido. Por isso, ela cresce no inverno e floresce quando nevascas e os primeiros raios quentes do sol anunciam o fim da estação mais gélida do ano – daí o apelido de “flor primogênita da primavera”.
Algumas lendas tentam explicar a origem dessa planta, símbolo da esperança de uma nova vida. Uma delas conta que Galanthus teria sido a primeira flor que Eva viu após ser banida do Paraíso, o que lhe deu a esperança de que Deus não abandonaria a humanidade.
Flor-da-neve: uma sedutora parasita
Ela só dá o ar da graça nos estados da Califórnia, de Nevada e do Óregon, nos Estados Unidos. Mas, quando é finalmente vista, a flor-da-neve (Sarcodes sanguinea) nunca está sozinha. E jamais passa despercebida. Suas flores, de até 30 cm de altura, multiplicam-se em colônias que surgem após o derretimento da neve, principalmente em florestas de coníferas, brindando a paisagem com tonalidades intensas de vermelho escarlate.
Brilhantes e misteriosas, elas exigem estudos mais aprofundados, mas já se sabe que se trata de uma espécie parasita, que se alimenta dos fungos que vivem nas raízes de pinheiros e outras espécies do gênero. Por isso, diferentemente da maioria das plantas, ela não precisa de sol para sobreviver, mas sempre dependerá de uma conífera para extrair os nutrientes de que necessita. Em contrapartida, a flor-da-neve oferece pequenos frutos rosados que são consumidos por animais que vivem na região.
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