Foto Cauã Menezes – BioDiversity4All –
É impossível não se render aos encantos dessa pequenina touceira de flores amarelo ouro.
Nativa do Brasil, as flores da Acianthera sonderiana não passam de 7 mm de diâmetro
TEXTO: Valerio Romahn
Há todo um grupo de orquídeas que é preciso de lentes de aumento para apreciar toda a beleza que ostentam
Gostar das grandonas como as Cattleya ou os Cymbidium todo mundo gosta. Agora há todo um mundo misterioso que passa despercebido dos olhos não treinados que são as Specklinia, Acianthera, Pabstiella ou Stelis. Esses são alguns dos gêneros, todos nativos brasileiros, que englobam um universo de orquídeas muito peculiares: suas flores são minúsculas, são as micro-orquídeas.
O interessante é que essas belezas quase invisíveis vêm ganhando cada vez mais notoriedade e começam a enfeitiçar verdadeiras legiões de apaixonados. Acredite, com uma lupa na mão, isso mesmo, uma lupa, você vai descobrir detalhes nas flores tão fascinantes quanto as das Cattleya ou Paphiopedilum.
DEFINIÇÃO POLÊMICA
A compreensão do que é verdadeiramente uma micro-orquídea é um tanto quanto polêmica entre orquidófilos e colecionadores. A princípio, considera-se uma micro-orquídea uma espécie que desenvolva flores com até 1 cm de diâmetro, às vezes 1,2 cm. Mas, para alguns orquidófilos, deve-se levar em conta também o porte da orquídea e até mesmo o tamanho do cacho floral. Um exemplo bem didático é a comparação entre uma Pabstiella trifida e uma Coelogyne filiformis. A Pabstiella trifida é uma espécie cespitosa de aproximadamente 7 cm de altura, com flores de até 6 mm, ou seja, uma micro-orquídea clássica, em todos os sentidos.
Já a Coelogyne fliliformis, apesar de ter flores ainda menores, de até 5 mm de diâmetro, para alguns orquidófilos não é considerada uma micro-orquídea. É que seu cacho floral, que pode agrupar uma centena de flores, compõe uma inflorescência com uns 30 cm de comprimento, e uma touceira que chega também a 30 cm de altura. Um detalhe: flores entre 1,2 cm e 2 cm de diâmetro são consideradas miniorquídeas, um outro capítulo nessa história. E igualmente lindo.
CONHEÇA O HABITAT
As micro-orquídeas — na grande maioria epífitas — estão presentes ao redor do mundo, mas é na América Latina onde ocorre a maioria das espécies — são milhares —, do México à Argentina. E a Colômbia e o Equador detêm a maior quantidade, com o Brasil na sequência. Elas se desenvolvem em diversos ambientes, mas a grande maioria das micro-orquídeas têm duas especificidades relevantes em comum quanto à subsistência: sombra e umidade, muita umidade. Isso se deve ao fato de que, no habitat, a maioria das micro-orquídeas se desenvolvem bem abaixo do dossel da floresta, onde a incidência de luminosidade é bem baixa e, como consequência, uma alta concentração de umidade. Elas subsistem quase que exclusivamente entre musgos.
Na Colômbia e no Equador, berço das micro-orquídeas, elas predominam na chamada floresta nublada, um tipo de floresta perene e úmida de altitude — aqui, no caso, ao longo da cordilheira dos Andes —, onde a ocorrência de cerrações e nuvens baixas na altura das copas das árvores são praticamente diárias. As florestas nubladas costumam apresentar uma grande abundância de musgos cobrindo tanto o solo como galhos de arbustos e árvores.
No Brasil, as principais micro-orquídeas que ocorrem nesse ambiente umbroso e úmido — na Serra do Mar da região Sul e Sudeste, e na Serra Geral, no Sul do País — fazem parte da subtribo Pleurothallidinae, que compreendem, por exemplo, os gêneros Anathaliis, Barbosella, Octomeria, Pleurothallis, Stelis e muitos outros.
No entanto, existem muitas micro-orquídeas que vegetam em outros tipos de ambientes e climas. A maioria das espécies dos gêneros que pertencem a subtribo Oncidiinae — como a Gomesa cogniauxiana — e da subtribo Maxillariinae — como a Maxillaria neowiedii — por exemplo, costumam vegetar em locais mais altos do dossel da floresta, onde recebem mais luz direta e, consequentemente, um índice muito menor de umidade.
Existem também espécies que são verdadeiras xerófitas, tão resilientes quanto os cactos, como é o caso da Acianthera teres. O fato é que, são centenas e mais centenas de micro-orquídeas à disposição para começar sua coleção. E conhecendo com mais profundidade o habitat dessas orquídeas, você não vai errar na escolha da espécie que se adapte melhor na sua região e ter sucesso no cultivo.
O ESPECIALISTA
VALERIO ROMAHN é autor de dezenas de livros, entre eles A Grande Enciclopédia Natureza de Plantas para o Jardim da Editora Europa. É também fotógrafo especializado em paisagismo e Botânica, jardinista e o editor da coleção Mestre das Orquídeas, entre várias outras atividades ligadas à Natureza.